Psicoterapia

A Terapia é para todos, mas nem todos suportam

É comum ouvirmos no dia-a-dia a seguinte frase “todo mundo deveria fazer terapia” referindo-se ao processo de psicoterapia realizado pelo profissional da psicologia. Tal afirmativa aponta para uma preocupação e certa fetichização na cultura atual em relação à psicoterapia. No entanto, essa afirmação, é carregada de expectativas por parte do seu enunciador e também de ressalvas. E esse artigo propõe-se a discutir sobre essas últimas. Boa leitura!

A Terapia É Para Todos, Mas Nem Todos Suportam

É comum ouvirmos no dia-a-dia a seguinte frase “todo mundo deveria fazer terapia” referindo-se ao processo de psicoterapia realizado pelo profissional da psicologia. Tal afirmativa aponta para uma preocupação e certa fetichização na cultura atual em relação à psicoterapia.

É reconhecível que nossa sociedade evoluiu em muitas questões com o avanço do tempo e das tecnologias. Assim como a questão da saúde mental, a valorização do processo de psicoterapia por parte do Estado e da sociedade ganhou maior espaço.

No entanto, essa afirmação, é carregada de expectativas por parte do seu enunciador e também de ressalvas. E esse artigo propõe-se a discutir sobre essas últimas.

A psicoterapia é um momento de ousar e deixar a tragédia atuar.

Grande parte das pessoas que buscam ou são encaminhadas para realizar o processo de psicoterapia trazem consigo queixas, questões e sofrimento. São raras as exceções que buscam o processo de psicoterapia em busca de autoconhecimento ou algo parecido.

Diante do exposto, o que o sujeito que sofre traz para uma psicoterapia, geralmente são questões avaliadas por ele mesmo como complexas, muitas vezes impossíveis de serem verbalizadas e até mesmo resolvidas a priori. Em contrapartida, o que se oferece de início por parte do profissional da psicologia é uma escuta atenta e acolhimento frente ao que esse sujeito apresenta como sofrimento.

No início de um processo de psicoterapia, é comum o sujeito projetar suas questões no outro. Culpabilizando seus pais, familiares, parceiro amoroso, vizinhos, amigos, o chefe e os colegas de trabalho, as circunstâncias pelo que lhe acontece. Porém, apesar do sofrimento, ele começa a tomar consciência de que ele também é parte responsável no que lhe acontece.

E a partir do momento que o sujeito começa a desabrochar o enredo daquilo que o faz sofrer e vai recebendo o auxílio e as intervenções do psicoterapeuta, naturalmente ele vai permitindo-se ousar entrar em contato com o seu sofrimento, e entendê-lo como parte constituinte da sua vida, e daí então, ele passa a haver-se com esse sofrimento.

Ser feliz na vida é uma meta muito longe, questione-se, cuidado! Cuide-se

A cultura atual parece vender incessantemente a ideia de busca pela felicidade como se esta última fosse uma espécie de destino final possível. E daí em diante o que aparece como alternativas são muitas mercadorias prometendo entregar uma felicidade plena, que nunca se encontra. Fato é que precisamos compreender cada vez mais que a felicidade é uma questão individual.

Há que se destacar que cada um de nós, somos atravessados por uma história singular, atrelada ao sofrimento humano, como parte da nossa existência humana. E esse sofrimento faz-se presente nos tempos do passado, presente e futuro, sobre esse último, destaca-se um exemplo, o qual é observável o caso de inúmeras pessoas que sofrem com o medo da morte.

Portanto, faz-se necessário reconhecer que também somos e vivenciamos questões incompreensíveis e doloridas durante a vida. Questões como o medo, a angústia, a perda, a morte, e o luto são vivências que perpassam cotidianamente sobre a nossa história, e viver também passa pelo atravessamento dessas situações.

“Todo mundo deveria fazer terapia”, será?

Assim como qualquer terapia, a psicoterapia não é uma unanimidade. E muitas questões estão nesse entorno. Há quem não se encaixe no processo, e o porquê disso pode ser muita coisa.

Inclusive um momento, há muitas experiências e relatos de contatos mal sucedidos com a psicoterapia, seja por consequência de uma fase da vida do próprio sujeito, ou por uma intervenção mal sucedida de um profissional ou até mesmo por falta de afinidade com determinado profissional.

E precisamos considerar também a condição de quem logo de cara se recuse a participar da psicoterapia por suas razões pessoais, ou quem já tenha iniciado o processo e decida por interrompê-lo durante o tratamento por questões diversas, e ainda quem opte por cessar o tratamento por não suportar a sua continuação.

Há que se fazer alguma coisa com aquilo que se fala na terapia.

De acordo com a experiência clínica, são observáveis no cotidiano, algumas buscas pelo processo de psicoterapia a fim de despejar todo o seu sofrimento em cima do psicoterapeuta com o intuito de que este aponte as causas e soluções para a sua angústia.

No entanto, é valido destacar, e aqueles que levam o processo de psicoterapia a sério descobrem com o decorrer do tratamento, que aquele profissional que o escuta não detém nenhum saber sobre o seu sofrimento, tão pouco sabe quais as possíveis ou melhores saídas para suas questões.

Então, o que resta para quem busca e leva a sério o processo de psicoterapia além de compreender aquilo que se fala, é o que fazer com aquilo que se fala e lidar de maneira ética com o que se deseja, responsabilizando-se por suas decisões. Em suma, a psicoterapia é para quem deseja ser colocado em questão e suporta lidar com isso.

A psicoterapia pode ser um caminho que aponte caminhos...

Quando eu começo a exercitar o movimento de me colocar em questão e me interrogar, o que se pode lograr com isso é que a minha relação com o meu destino se transforma. Quando eu decido a começar a decidir e bancar o que vier depois disso, eu me fortaleço a continuar caminhando. Considerando que o caminho tem pedras, buracos, bichos, meios de transportes, chuva, sol e muitas surpresas...

A psicoterapia é um meio na vida para se descobrir respostas que se buscava e também de tropeçar em respostas que ainda não estamos preparados. Ainda se descobre que não há resposta pra tudo, que as respostas sempre serão incompletas, ficando sempre um resto não assimilável, e lidar com essa falta que sempre resta faz parte da vida.

Por fim, o processo de psicoterapia também propicia aprender a se cobrar menos e acolher-se, considerando a nossa condição humana de ser errante, e fazendo alguma coisa dos nossos erros, em alguns casos, que seja sorrir. E ainda caminhar no sentido constante de reinventar-se, reconstruindo sentidos e visões que caminhem lado a lado com o que eu penso, quero, tenho vontade, acredito e decido.

Caique dos Santos Oliveira
Caique dos Santos Oliveira

Humano, curioso, filho, irmão, tio, padrinho, amigo, LGBTQIA+ e escritor. Pós graduado em Psicologia Social pela Faculdade de São Lourenço – UNISEPE. Leitor e atento às questões que envolvem saúde mental e sociedade contemporânea propõe-se a trazer informações e levantar questões para provocar reflexões e favorecer diálogos. Instagram: @eucaiqueoliveira

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