Relacionamentos

Relacionamentos amorosos, do abusivo ao saudável: uma breve discussão

O relacionamento abusivo sempre existiu, não é um fenômeno recente. E você provavelmente já foi atravessado direta ou indiretamente por ele. Esse artigo visa discutir brevemente a questão dos relacionamentos amorosos, do abusivo a possibilidade do saudável. Repense, questione! Boa leitura!

Relacionamentos Amorosos, do Abusivo ao Saudável: uma Breve Discussão

O Psicanalista francês Jacques Lacan dizia que o amor nada mais é do que uma escolha narcísica, aonde eu escolho um objeto suficientemente bom, para me dizer o quanto eu sou suficientemente maravilhoso. Logo, podemos problematizar que não amamos o outro, e sim o retorno que esse outro nos dá sobre nós. E aí, fez sentido para você? Se você está em algum relacionamento amoroso, como tem sido esse retorno para você?

Falar sobre relacionamentos amorosos sempre é uma questão atual. O amor, assim como muitas coisas, também se transforma com o tempo. Dividir a vida e o tempo com outra pessoa é uma questão complexa por natureza. Estar disponível e trocar com o outro envolve muitas questões, e esse artigo visa discutir algumas delas.

É importante pontuar que o relacionamento abusivo sempre existiu, não é um fenômeno recente. E pode ser lido também como um produto da cultura machista e patriarcal que ainda mantém raízes e produz efeitos sobre muitas questões, relações e desigualdades sociais contemporâneas.

Alguns sinais típicos, presentes em um relacionamento abusivo

Manipulação: a manipulação pode ser entendida como o exercício de uma influência indevida sobre alguém, como, através da distorção mental e exploração emocional, com as intenções de tomar o poder, controle, benefícios e privilégios às custas do sujeito que se encontra na posição de vítima na relação.

Privação de assuntos: ocorre quando você precisa ficar pisando em ovos para falar sobre determinados assuntos, se ocupando de pensar no que acha que pode contar, e no que julga talvez como necessário omitir.

Anulação de si: se dá quando você se pega dissimulando atitudes, ações e situações. E quando você começa a refletir se está sendo você mesmo, seguindo o que tem vontade, acha correto, importante e/ou necessário.

Incertezas: esse sinal se dá por diversos caminhos, alguns deles se dão quando as fronteiras e os limites não estão claros e estabelecidos na relação, e quando começa a se sentir sufocado por conviver com essas e outras tantas incertezas.

O gozo nas relações amorosas, o que é isso?

Quando a gente pensa ou ouve dizer a palavra “gozo”, instantaneamente somos remetidos a fantasiar sob a esfera sexual. Afinal, essa palavra é mais frequentemente utilizada pelo senso comum como sinônimo de orgasmo.

Entretanto, para a psicanálise, esse termo se refere à outra coisa. Criado pelo psicanalista Jacques Lacan, esse termo diz sobre uma experiência de satisfação sexual inconsciente. Ou seja, um modo de funcionar nosso que vem do nosso inconsciente, portanto, não está acessível a nossa consciência, tudo aquilo que acontece aqui e agora e/ou aquilo que se eu me esforçar, eu me recordo.

Contudo, o gozo para psicanálise não se refere a um prazer, mas sim a um malefício para o sujeito, exatamente por implicar em sua destruição. Na prática, muitas vezes o sujeito está numa relação de abuso e não consegue sair desta. A partir disto, faz-se necessário questionar-se sobre a sua posição diante dessa relação. Porque que você se mantém nessa posição?

E o contraponto do relacionamento abusivo, será que existe e/ou é possível um relacionamento ideal?

O que seria um relacionamento que seja ideal? É possível? Existe? A própria cultura, a publicidade, algumas religiões e muitos gurus vendem por aí que existe um modelo de relacionamento ideal.

A priori, é necessário questionar e quebrar esses modelos que “servem para todo mundo”. Até quando você vai idealizar e buscar a sua “metade da laranja”? Será que existe o encaixe perfeito? Ou o que há é um encontro de vazios e aí você vai pegar esses dois vazios que se encontraram e tentar fazer alguma coisa disso. Essa última opção me parece ser a mais viável diante da nossa condição singular no mundo (somos marcados por diferenças).

Um relacionamento saudável é aquele que permite ser recriado todos os dias, percebendo e questionando a idealização que criamos sobre o outro. O amor se dá quando vemos os momentos quando caem as máscaras e nos deparamos com quem o outro realmente é, e a partir daí sustentamos, bancamos e tentamos criar algo a partir disso.

Já você, que pode estar envolvido ou conhece alguém que esteja em um relacionamento abusivo, entenda que amar não se trata de aceitar tudo, mas, as duas partes buscarem realizar acordos, trocas, ora doar e ora receber.

Como a psicoterapia pode ajudar em casos de Relacionamento abusivo

É muito comum em pessoas que estão envolvidas em um relacionamento abusivo e que buscam a ajuda de um Psicólogo, chegarem ao processo de Psicoterapia se justificando ou justificando o outro a partir de um lugar de vítima.

E muitas vezes o Psicólogo vai iniciar o processo escutando, acolhendo, como sempre, é claro, mas já apontando a situação de relacionamento abusivo, a posição do sujeito que se queixa ali sobre ela e propiciando um espaço para reflexão de outros caminhos possíveis para além desse relacionamento.

E a questão está em o sujeito conseguir sair dessa relação abusiva e se questionar, porque se coloca em relações de abuso na vida, não só em relacionamentos amorosos. E para além de saber os porquês, avançar, decidir o que fazer com o que descobriu e passar a caminhar no sentido de ser sujeito da sua própria vida.

Caique dos Santos Oliveira
Caique dos Santos Oliveira

Humano, curioso, filho, irmão, tio, padrinho, amigo, LGBTQIA+ e escritor. Pós graduado em Psicologia Social pela Faculdade de São Lourenço – UNISEPE. Leitor e atento às questões que envolvem saúde mental e sociedade contemporânea propõe-se a trazer informações e levantar questões para provocar reflexões e favorecer diálogos. Instagram: @eucaiqueoliveira

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