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Como empreender afeta a saúde mental (e como lidar com isso)

Abrir e administrar um negócio próprio não é nada fácil. Entenda agora como isso afeta a saúde mental e confira dicas para manter o bem-estar psicológico.

Como Empreender Afeta a Saúde Mental (E Como Lidar Com Isso)

Os empreendedores são, com certeza, um dos maiores responsáveis pelo estilo de vida relativamente cômodo que vivemos hoje.

Graças a eles, problemas estão sendo constantemente explorados e soluções criativas, povoando nosso dia a dia.

E a escala disso pode ser maior do que muitas pessoas imaginam: existem no mundo hoje mais de 500 milhões de empreendedores. Isso corresponde a aproximadamente 8% da população da Terra.

Essa é uma demografia que importa, tanto pelo valor de sua contribuição quanto pelo seu tamanho.

Claro, estamos falando de um conjunto gigantesco de pessoas cujo contexto cultural, econômico e político é extremamente diversificado. Apesar disso, existe algo em comum entre eles.

Todos estão em um ramo profissional relativamente arriscado.

Ora, não é nada menos que justo dizer que empreender é uma atividade onde risco e recompensa são altos.

Por estar em um negócio próprio, o empreendedor geralmente não está preso a uma estrutura hierárquica estável e previsível. Isso significa que o sucesso pode ser repentino e mudar muita coisa, muito rápido.

A situação oposta é uma possibilidade tão inconveniente quanto real: o negócio próprio possui uma fragilidade maior a momentos ruins, os riscos devem ser calculados com muito cuidado e as ameaças à sobrevivência do empreendimento são constantes e multiformes.

Não é difícil enxergar a implicação disso: o empreendedor precisa estar de olho em muita coisa (às vezes em tudo) ao mesmo tempo. E geralmente não só lidar com o que acontece no presente, mas planejar o direcionamento futuro também.

Empreender não é nada fácil. Ainda mais em um país como o nosso.

É inevitável que viver constantemente sob um estado de tensão como esse traga efeitos colaterais. O desgaste mental é inevitável, mas ele é acompanhado de mudanças físicas também.

E esse “desgaste” não significa apenas uma pessoa irritadiça e cansada ao fim do dia. Problemas psicológicos graves podem decorrer da enorme responsabilidade associada a ter um negócio próprio.

Dar atenção à saúde mental de quem atua nesse ramo é essencial, não só pelo tamanho e importância do grupo, mas porque uma rotina de alto estresse é uma parte inevitável na vida do empreendedor. Uma ocupação psicologicamente extenuante como essa, exige cuidados mentais igualmente intensos.

O perfil empreendedor e a saúde mental

Qualquer pessoa pode se tornar um empreendedor. A análise psicológica, porém, indica que certos traços de personalidade são observados de maneira consistente entre as pessoas que criam seus próprios negócios.

Alguns dos traços mais prevalentes são: criatividade, tolerância a riscos relativamente alta além de uma preferência por conquistas mais meritocráticas. Pessoas assim são, de maneira geral, mais ativas, motivadas e independentes (ou inovadoras).

Infelizmente algumas implicações negativas decorrem disso: profissionais da saúde mental acreditam que esses mesmos traços são indicadores de uma maior predisposição a problemas emocionais.

Um desses profissionais é Michael Freeman – pesquisador da Universidade da Califórnia. “Pessoas que são mais energéticas, motivadas e criativas são predispostas tanto a serem empreendedoras quanto a apresentarem quadros emocionais fortes”, diz o psiquiatra e psicólogo.

Freeman vai além e diz que para os empreendedores, a possibilidade de ocorrência de um transtorno mental é 50% maior que para as demais pessoas.

Um estudo australiano, realizado por pesquisadores da Universidade de Tecnologia de Swinborne, observou evidências de que corroboram essa afirmação. Segundo eles, donos de negócios são mais suscetíveis a sofrerem com de uma obsessão exagerada.

Algumas das dificuldades emocionais que costumam acometer empreendedores e donos de negócios são:

  • Transtorno de Ansiedade Generalizada;
  • Estresse;
  • Depressão,
  • Solidão;
  • Ataques de pânico.

Além da predisposição que pessoas com o perfil empreendedor possuem, as tensões de se gerenciar um negócio também contribuem para o surgimento desses problemas.

Para colocar em perspectiva, se comparados às outras pessoas, os fundadores de negócio têm uma chance:

2x maior de sofrerem de depressão;

10x maior de sofrerem de Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade;

3x maior de sofrerem com abuso de substâncias químicas;

10x maior de sofrerem de Transtorno Bipolar;

2x maior de passarem por uma internação psiquiátrica;

2x maior de experimentarem pensamentos suicidas.

Durante muito tempo, e nessa área em particular, reconhecer tais dificuldades era um tabu. Um sinal de fraqueza em um campo extremamente competitivo onde qualquer coisa além de absoluta solidez era um mau sinal para os investidores.

Essa mentalidade de que nada deve estar acima do negócio leva muitos empreendedores a ignorarem os cuidados com o corpo e, mais ainda, com a mente.

Para garantir o sucesso do negócio, muitos fundadores e sócios sacrificam a qualidade da sua alimentação, o seu sono e seus relacionamentos. E de fato, isso no curto prazo pode trazer bons resultados para o empreendimento.

Com o passar do tempo, entretanto, essa atitude é extremamente contraprodutiva: sem os cuidados mínimos com o corpo e mente o empreendedor adoece, e doente, não é capaz de administrar o negócio com a mesma habilidade.

Colocar o empreendimento acima da própria saúde é um método insustentável de trabalho. Tanto sócio quanto investidor não devem se enganar a respeito disso.

Essa crise na saúde mental dos empreendedores é um problema que já existe (e vem aumentando) há muito tempo. Os anos de 2020 e 2021, porém, trouxeram um novo desafio para o bem-estar de todos, inclusive dos empreendedores.

O coronavírus e a saúde mental do empreendedor

A pandemia do novo coronavírus e os esforços para contê-la geraram profundas mudanças no nosso modo de vida. Muitos negócios foram criticamente impactados e a incerteza sobre o futuro só torna tudo mais difícil.

Sejam grandes ou pequenas, todas as empresas foram impactadas pela mudança de hábitos e de rotina. Entretanto, os negócios menores são aqueles que mais sofrem para se adaptar à nova realidade.

Lidar com as mudanças na vida pessoal durante um período como esse já é um desafio. Soma-se a isso a preocupação com os problemas financeiros que os pequenos e médios negócios estão tendo e é possível entender porque a saúde mental dos empreendedores está particularmente fragilizada.

Pensando nessa realidade, a empresa Troposlab, em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), realizou um estudo sobre a saúde mental do empreendedor brasileiro em meio à pandemia.

A pesquisa envolveu mais de 650 empreendedores de todas as regiões do Brasil e obteve algumas respostas importantes sobre como esses brasileiros se sentem:

  • Mais de 75% se sentem afetados ou muito afetados pela pandemia;
  • Mais de 15% começaram a usar medicamentos para combater ansiedade ou depressão;
  • 4% a 6% apresentam níveis severos de ansiedade, estresse e depressão. 80% apresentam esses mesmos sintomas em grau baixo.

Outra informação importante revelada pela pesquisa é a taxa de diagnóstico de depressão e ansiedade ao longo da vida:

  • Ansiedade: Para a população em geral é de 9,3%, entre os empreendedores é de 50,7%;
  • Depressão: Para a população em geral é de 5,8%, entre os empreendedores é de 13,8%.

Considerando essa brutal diferença, fica claro que empreender no Brasil é uma atividade extremamente desgastante para a saúde mental. O que fazer?

Uma vida saudável é possível

Embora não seja fácil, é possível sim equilibrar a saúde, relacionamentos e as obrigações como empreendedor.

É claro, momentos de particular tensão existem. Situações onde esse equilíbrio vai ser perturbado são inevitáveis. Mas esses devem ser momentos pontuais.

O estilo de vida do empreendedor deve ser sustentável e, para isso, é necessário que todos os aspectos fundamentais da vida recebam atenção regularmente.

Nesse sentido, os pesquisadores da Troposlab oferecem algumas dicas:

  • Reconheça sua situação de saúde mental para que consiga elaborar ações de enfrentamento que te fortalecem, observe suas reações involuntárias e tente criar caminhos para ações positivas;
  • Alimente suas relações pessoais, mesmo que de forma remota (telefone ou faça conferências com amigos, outros empreendedores, etc.);
  • As pessoas mais vulneráveis, como idosos e crianças, são mais sensíveis, tenha paciência, ajude elas a se expressarem, a manterem uma rotina.
  • Se comunique de forma clara e objetiva;
  • 136 é o número do Disque Saúde, ligue se sentir que precisa de ajuda;
  • Conheça os sinais físicos, emocionais, cognitivos e comportamentais da ansiedade, depressão e estresse;
  • Evite pensamentos de desamparo ou desistência de suas atividades, ao invés disso, tente entender suas dificuldades e adaptar seus planos;
  • Planeje seu dia inserindo atividades que aliviam a carga mental;
  • Busque deixar seu ambiente mais confortável e prazeroso;
  • Inclua na sua rotina ações de autocuidado como exercícios físicos, meditação entre outros;
  • Aceite apoio emocional quando oferecido e ofereça;
  • Busque momentos de conexão emocional consigo mesmo;
  • Busque apoio especializado se sentir que não está dando conta das tarefas devido a sentimentos negativos;
  • Busque aceitar as situações que estão fora de seu controle, tentando ressignificar e encontrar alternativas ou esperar para agir;
  • Negocie uma rotina equilibrada de tarefas com quem compartilha o ambiente com você.
João Vitor Gomes dos Santos
João Vitor Gomes dos Santos

Engenheiro Mecânico, através da convivência na universidade se conscientizou da importância do bem-estar mental. Para promover e acessibilizar os cuidados com a mente, cofundou a PsyMeet. Convencido da importância da saúde mental para uma vida feliz, está sempre lendo, assistindo e ouvindo sobre o tema. Instagram @dosantosjv

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Atenção: Este site não oferece tratamento ou aconselhamento imediato para pessoas em crise suicida. Em caso de crise, ligue para 188 (CVV) ou acesse o site www.cvv.org.br. Em caso de emergência, procure atendimento em um hospital mais próximo.