A Utópica felicidade do século XXI
Ser feliz o tempo todo é possível?
09.12.2022 | Rafael Silva
A Fórmula da Felicidade
A felicidade é algo discutido, debatido e buscado desde os povos antigos. Todos querem encontrar a “fórmula da felicidade”. O ser humano tem a tendência de idealizá-la como um pote de ouro no alto de uma montanha e que quando encontrá-lo, será para sempre feliz.
A felicidade tal como a imaginamos livre de frustrações ou problemas é utópica. O próprio curso da vida nos impõe limites e restrições o tempo inteiro. É o que salienta Freud em O mal-estar na civilização, ao dizer que “Somos feitos de modo a só podermos derivar prazer intenso de uma situação de contraste, e muito pouco de um determinado estado de coisas. Assim, nossas possibilidades sempre são restringidas por nossa própria constituição.”
Somos sujeitos estruturalmente marcados por uma falta, apesar disso, no mundo contemporâneo somos bombardeados por produções capitalistas, com ofertas de felicidade instantânea. Um objeto é rapidamente trocado por outro, consumindo de modo compulsivo os produtos e eletrônicos, o sujeito desbussolado (sem direção) da sociedade atual tenta constituir- lhe uma identidade na tentativa de ser aceito pelo outro e evitar entrar em confronto com a ausência de completude, com a sua castração.
A vida não vem com “Manual de Instruções”
Então quer dizer que as pessoas não devem buscar a felicidade? Como assim?
O problema está nos excessos. Em querer tamponar cada furo da existência e eliminar por completo a sensação de angústia. O sujeito contemporâneo quer gozar sem limites. Em psicanálise, quando se fala em gozo, se refere àquilo que está para além do prazer e que o sujeito insiste em repetir compulsivamente numa relação de dependência, com a presença de dor e prazer. No entanto, a felicidade a qualquer preço não é a melhor maneira de lidar com a angústia.
Veja bem caro leitor, não quero levá-lo a uma visão pessimista da vida, porém, é necessário compreender que a vida não vem com um manual de instruções, é na medida que existimos no mundo que vamos aprendendo a viver nele. Não se deixando levar pela onda do discurso capitalista, com suas ofertas mágicas de satisfação completa.
A felicidade como exigência na Contemporaneidade
No mundo de hoje observamos uma urgência de estar feliz o tempo todo. As redes sociais estão repletas de pessoas felizes e bem sucedidas, ao mesmo tempo, vemos aumentar o número de diagnósticos de ansiedade, crises de pânico e depressão. A indústria farmacêutica segue a todo vapor, nunca se consumiu tantos ansiolíticos e antidepressivos como em nossa época.
Diante disso, a gama de ofertas e produtos que garantem o prazer e a felicidade são imensas, parece não haver espaço para a falta. O homem para a psicanálise é um sujeito atravessado pela falta, que é causa de desejo e nos mantém vivos. Hoje, tudo já vem modelado, mastigado e pronto, livrando o sujeito de entrar em contato com a sua subjetividade.
De que modo tornar-se Feliz?
A humanidade sempre indagou através das religiões e filosofias o sentido da vida. Atualmente sobram opções para que o sujeito tente tamponar essa dúvida, que é fonte de angústia. No entanto, mesmo vivendo em um mundo globalizado e moderno, as respostas para essa pergunta são insuficientes.
Não há nada que possa livrar o ser humano desse mal-estar, a vida é imprevisível e estamos sujeitos a lidar com o sofrimento. É ilusão acreditar que podemos ter tudo o que desejamos, a frustração faz parte da caminhada. As frustrações da vida não devem ser paralisantes, mas potencializantes, resta a cada pessoa descobrir por si mesma a sua “fórmula da felicidade”, buscando autoconhecimento, assumindo o risco da invenção frente aos dilemas da existência.
Meu nome é Rafael Gonçalves, sou graduado em psicologia pelo grupo Unisepe. Pós-graduando em Saúde mental e atenção psicossocial pelo grupo Unopar. Realizo atendimentos online com base na teoria psicanalítica. Sempre atento às questões de nosso tempo, sigo refletindo sobre mim mesmo e a sociedade.