Como a genética influencia a depressão
Saiba como depressão e genética se relacionam.
04.03.2022 | João Vitor Santos
As causas da depressão são tão confusas para os pesquisadores quanto para os profissionais da saúde que a tratam e, mais ainda, para as mais de 260 milhões de pessoas que sofrem com esse transtorno.
A genética pode indicar um risco maior de depressão, mas nem sempre determina com total precisão se uma pessoa vai desenvolver essa condição ou não. Não existe uma “causa número 1” para a depressão – e muito mais complexa é a relação entre genética, depressão e outros fatores conhecidos.
Se recebesse a notícia de que tem um “gene da depressão”, você provavelmente ficaria preocupado(a) com o risco de desenvolver a doença. Entretanto, ter predisposição genética para uma doença não significa que você necessariamente a terá. Significa apenas que você possui uma chance maior de ter a doença do que alguém com um traço genético diferente.
O papel da genética na depressão
Até onde os pesquisadores sabem, é a interação dos genes junto com outros fatores (como traumas e o ambiente) que determina se alguém desenvolve depressão.
Alguns estudos indicam que a pessoa que tem um parente de primeiro grau com depressão (pai, filho ou irmãos) pode ter uma chance até três vezes maior de ser diagnosticada em comparação com a população em geral.
Entretanto, é importante notar que apesar de estudos sugerirem um fator hereditário, essas descobertas não explicam aqueles que ficam depressivos mesmo sem um histórico familiar.
Pesquisas mostram que os genes influenciam no risco de surgimento de diversos problemas de saúde, inclusive depressão.
Alguns estudos apontam que mulheres podem ser mais suscetíveis à influência genética do que os homens no contexto da depressão.
Entendendo variações genéticas
A hereditariedade é uma interação complexa entre diferentes fatores que vão além dos genes individuais. Ao estudar depressão ou outros transtornos mentais, os pesquisadores procuram por mudanças nos genes, chamadas variantes. Essas mudanças são classificadas de acordo com o efeito que produzem no gene.
A cor dos olhos é um exemplo de como as variantes afetam os genes. Mudanças em certos genes que afetam a produção de melanina, assim como vários outros genes, determinam a cor dos seus olhos.
As famílias geralmente podem prever a cor dos olhos do filho ao analisar os pais e outros parentes próximos, mas as variantes também podem se comportam de maneira inesperada. Por exemplo, pais com olhos azuis podem gerar uma criança com olhos castanhos.
A hereditariedade é um processo complexo mesmo para um traço relativamente simples como a cor dos olhos. Para condições como a depressão, os pesquisadores ainda não determinaram todas as implicações das variações genéticas.
Desmistificando o “gene da depressão”
Ter uma variante genética pode tornar mais provável, mas não definitivo, o surgimento de uma condição associada com essa variante.
Se um gene associado com uma certa condição é alterado, o desenvolvimento dessa condição se torna mais (ou menos) provável. Uma variante genética benigna tem menos chances de influenciar uma condição do que uma variante patogênica (que causa doenças).
Em alguns casos, os pesquisadores identificam uma variante, mas não podem dizer quais seus efeitos, se é que existem. Nesses casos, diz-se que tais variantes têm “importância desconhecida”.
Vários estudos sobre o genoma propuseram conexões genéticas potenciais com o transtorno depressivo maior. Em 2017, pesquisadores identificaram duas novas variantes genéticas associadas com a depressão.
Um estudo de 2018 identificou várias variantes genéticas que pareciam estar associadas com sintomas de depressão e, em alguns casos, diferenças físicas no cérebro.
Apesar de a pesquisa ter fornecido uma perspectiva valiosa sobre a hereditariedade de transtornos mentais, nenhum estudo identificou de maneira definitiva um único gene como causa da depressão. Os cientistas acreditam que é mais provável que cada um dos diferentes genes e variações façam uma pequena contribuição para o risco geral da pessoa.
A genética pode afetar tratamentos de saúde mental?
A depressão pode ser tratada com medicação, psicoterapia e outras intervenções como a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC). Para algumas pessoas, uma combinação entre esses tratamentos pode ser prescrita.
Seus genes podem determinar o quão bem um tratamento funciona para você. Por exemplo, pesquisas indicam que certos genes podem afetar o quão bem seu corpo absorve, usa e excreta álcool e drogas – inclusive medicamentos antidepressivos.
Sabe-se que vários genes influenciam o metabolismo de drogas, mas o resultado desses estudos interessa mais aos médicos e pesquisadores. Isso porque esses profissionais não sabem como essas informações podem ser úteis para os consumidores.
Pesquisas adicionais são necessárias para determinar o que as descobertas dos estudos genéticos podem significar para os antidepressivos e outros medicamentos usados para tratar da depressão.
Fatores genéticos à parte, se você recebeu o diagnóstico de depressão e está tentando escolher um tratamento, tenha em mente que esse processo pode levar tempo. Talvez você precise experimentar mais de um tipo de terapia antes de encontrar a melhor opção. Talvez você precise ajustar ou trocar o plano de tratamento com o passar do tempo. Para encontrar um psicoterapeuta agora mesmo, clique aqui.
Antes de começar a tomar medicamentos contra depressão, informe seu médico sobre quaisquer remédios, vitaminas ou suplementos que você consome. Esses produtos podem interagir com os antidepressivos, afetando seu funcionamento e podendo causar efeitos colaterais graves.
A hereditariedade da depressão afeta crianças?
Pessoas com depressão podem se preocupar se elas passarão a condição para seus filhos. Embora possa existir um fator hereditário para a depressão, a genética não é o único fator determinante.
Uma criança que tem pais com depressão pode ter uma predisposição genética, mas ela não necessariamente terá depressão. Outros fatores, como as influências do ambiente (os “gatilhos”), também estão envolvidos.
Por outro lado, uma criança que não tem um membro da família com depressão e não é geneticamente predisposta à doença pode ficar depressiva se for exposta a um trauma ou evento semelhante.
Mesmo que a depressão não esteja “no sangue da sua família”, todos os pais e cuidadores devem conhecer os sinais da depressão em crianças e adolescentes.
Causas não genéticas da depressão
A genética é uma das várias causas potenciais da depressão. Conhecer outras possíveis causas ajudará você a entender melhor o transtorno, só se lembre que ele também pode se desenvolver na ausência de uma causa óbvia, tonando-se difícil de identificar.
Outros fatores que contribuem para o aparecimento da depressão incluem:
- Química cerebral – Algumas pessoas com depressão têm níveis mais baixos de neurotransmissores (hormônios que influenciam o humor e o bem-estar). Os neurotransmissores que possuem podem ser insuficientes ou funcionar mal;
- Mudanças na estrutura cerebral – Estudos apontam que cérebro das pessoas com depressão pode ser física e estruturalmente diferente do cérebro de pessoas sem depressão;
- Hormônios – Condições como gravidez, transtornos na tireoide e menopausa podem afetar os níveis hormonais. Níveis hormonais baixos ou altos podem desencadear sintomas de depressão, particularmente em pessoas geneticamente predispostas;
- Estresse intenso – Depressão situacional, ou transtorno de ajuste com humor deprimido, pode aparecer em alguém que está passando por uma situação estressante ou que sofreu um trauma.
Conclusão
Ter predisposição genética à depressão pode exacerbar os fatores acima e influenciar o momento em que a pessoa fica depressiva assim como a intensidade dos sintomas. Entretanto, é importante lembrar que a depressão pode aparecer em qualquer um – mesmo alguém que não é geneticamente predisposto e não é suscetível a fatores de risco conhecidos.
Identificar os sinais de depressão e ser capaz de reconhecê-los em si e nos outros é essencial para que a condição não fique sem tratamento.