Neuropsicologia

Neurotransmissores – O que são e como funcionam

Saiba mais sobre essas importantes substâncias mensageiras.

Neurotransmissores – O que São e Como Funcionam

Neurotransmissores são mensageiros químicos que transportam, aumentam e equilibram os sinais entre os neurônios e as células-alvo em todo o corpo. Essas células-alvo podem estar em glândulas, músculos ou outros neurônios.

Bilhões de moléculas de neurotransmissores trabalham constantemente para manter nosso cérebro funcionando, gerenciando tudo, como nossa respiração, batimentos cardíacos, nível de aprendizado e concentração.

Eles também podem afetar uma variedade de funções psicológicas, como medo, humor, prazer e alegria.

Como os neurotransmissores funcionam

Para que os neurônios enviem mensagens por todo o corpo, eles precisam ser capazes de se comunicar uns com os outros para transmitir sinais. No entanto, os neurônios não estão conectados diretamente uns aos outros.

No final de cada neurônio, há um pequeno espaço chamado sinapse e, para se comunicar com a próxima célula, o sinal precisa ser capaz de atravessar esse pequeno espaço. Isso ocorre através de um processo conhecido como neurotransmissão.

Na maioria dos casos, um neurotransmissor é liberado do que é conhecido como terminal axônico depois que um potencial de ação - um sinal - chega à sinapse.

Quando um sinal elétrico atinge o final de um neurônio, ele desencadeia a liberação de pequenos sacos chamados vesículas, que contêm os neurotransmissores. As vesículas derramam seu conteúdo na sinapse, de onde os neurotransmissores se movem em direção às células vizinhas. Essas células contêm receptores aos quais os neurotransmissores se ligam, desencadeando mudanças nas células.

Após a liberação, o neurotransmissor atravessa a fenda sináptica e se liga ao local do receptor no outro neurônio, excitando ou inibindo o neurônio receptor, dependendo do neurotransmissor.

Receptores e neurotransmissores agem como um sistema de fechadura e chave. Assim como é preciso a chave certa para abrir uma fechadura específica, um neurotransmissor (a chave) só se ligará a um receptor específico (a fechadura). Se o neurotransmissor é capaz de trabalhar no local do receptor, ele desencadeia mudanças na célula receptora.

Às vezes, os neurotransmissores podem se ligar aos receptores e fazer com que um sinal elétrico seja transmitido pela célula (excitatórios). Em outros casos, o neurotransmissor pode impedir que o sinal continue, evitando que a mensagem seja transmitida (inibitório).

Inativação de neurotransmissores

Depois que um neurotransmissor fez seu trabalho e produziu o efeito desejado, sua atividade pode ser interrompida de três maneiras:

  • Degradação – Uma enzima altera a estrutura do neurotransmissor para que ele não seja mais reconhecido pelo receptor;
  • Difusão – O neurotransmissor se afasta do receptor;
  • Recaptação – A molécula inteira do neurotransmissor é absorvida de volta pelo neurônio que o liberou.

Critérios de identificação dos neurotransmissores

A identificação dos neurotransmissores pode ser bastante difícil. Embora os cientistas possam observar as vesículas contendo neurotransmissores, descobrir quais substâncias químicas são armazenadas nas vesículas não é tão simples.

Por causa disso, os neurocientistas desenvolveram uma série de diretrizes para determinar se um composto químico deve ou não ser definido como um neurotransmissor:

  • Presença da substância no interior da célula. O possível neurotransmissor deve ser produzido dentro do neurônio ou armazenado nele de alguma forma;
  • Liberação dependente de estímulo. O neurônio libera a substância em quantidades apropriadas mediante estímulo;
  • Ação sobre célula pós-sináptica. A substância deve ser liberada pelo neurônio pré-sináptico enquanto o neurônio pós-sináptico deve possuir receptores para a substância em questão;
  • Mecanismo de remoção. Existe um mecanismo específico para retirar a substância do local de ativação uma vez que ela tenha cumprido seu papel.

Classificação dos neurotransmissores

Os neurotransmissores desempenham um papel importante na vida cotidiana e na nossa funcionalidade. Os cientistas ainda não sabem exatamente quantos neurotransmissores existem, mas mais de 60 mensageiros químicos distintos já foram identificados.

Os neurotransmissores podem ser classificados por sua função:

  • Neurotransmissores excitatórios – Esses neurotransmissores causam excitação nos neurônios, o que significa que a célula nervosa terá uma chance maior de disparar um potencial de ação (um impulso nervoso). Alguns exemplos incluem adrenalina e noradrenalina;
  • Neurotransmissores inibitórios – Ao contrário dos excitatórios, estes neurotransmissores inibem a ação do neurônio – diminuindo a chance de que ele dispare um potencial de ação. Serotonina e ácido gama-aminobutírico são alguns exemplos;
  • Neurotransmissores modulatórios – Também conhecidos como neuromoduladores, podem afetar um grande número de neurônios ao mesmo tempo, além de afetarem o funcionamento de outros neurotransmissores.

Alguns neurotransmissores, como dopamina e acetilcolina, podem induzir efeitos tanto excitatórios quanto inibitórios, dependendo de quais receptores estão presentes.

Tipos de neurotransmissores

Existem várias maneiras de categorizar os neurotransmissores. Em alguns casos, eles são simplesmente divididos em monoaminas, aminoácidos e peptídeos.

Os neurotransmissores também podem ser categorizados em um dos seis tipos:

Aminoácidos

  • Ácido gama-aminobutírico. Este aminoácido natural atua como o principal mensageiro químico inibitório do corpo. Contribui para a visão, controle motor e desempenha um papel na regulação da ansiedade;
  • Glutamato. O neurotransmissor mais abundante encontrado no sistema nervoso, o glutamato desempenha um papel em funções cognitivas, como memória e aprendizado. Quantidades excessivas de glutamato podem causar excitotoxicidade, resultando em morte celular. Essa excitotoxicidade causada pelo acúmulo de glutamato está associada a algumas doenças e lesões cerebrais, incluindo a doença de Alzheimer, acidente vascular cerebral (AVC) e convulsões epilépticas;

Peptídeos

  • Ocitocina. Este poderoso hormônio atua como um neurotransmissor no cérebro. É produzido pelo hipotálamo e desempenha um papel no reconhecimento social, vínculo e reprodução sexual. Tanto a ocitocina quanto a pitocina fazem com que o útero se contraia durante o trabalho de parto;
  • Endorfinas. Esses neurotransmissores inibem a propagação de sinais de dor e promovem sentimentos de euforia. São produzidos naturalmente pelo corpo em resposta à dor, mas também podem ser desencadeados por outras atividades, como exercícios aeróbicos.

Monoaminas

  • Adrenalina. A adrenalina é tanto um neurotransmissor quanto um hormônio. Geralmente, a adrenalina é um hormônio do estresse que é liberado pelas glândulas suprarrenais. No entanto, funciona como um neurotransmissor no cérebro;
  • Noradrenalina. Este produto químico natural é um neurotransmissor que desempenha um papel importante na resposta de luta ou fuga do corpo. Seu papel é ajudar a mobilizar o corpo e o cérebro para agir em momentos de perigo ou estresse. Os níveis desse neurotransmissor são tipicamente mais baixos durante o sono e mais altos durante períodos de estresse;
  • Histamina. Este composto orgânico atua como um neurotransmissor no cérebro e na medula espinhal. Desempenha um papel nas reações alérgicas e é produzido como parte da resposta do sistema imunológico a patógenos;
  • Dopamina. Comumente conhecida como o neurotransmissor do bem-estar, a dopamina está envolvida na recompensa, motivação e satisfação. Vários tipos de drogas que causam dependência aumentam os níveis de dopamina no cérebro. Este mensageiro químico também desempenha um papel importante na coordenação dos movimentos do corpo. A doença de Parkinson, que é uma doença degenerativa que resulta em tremores e deficiências motoras, é causada pela perda de neurônios geradores de dopamina no cérebro;
  • Serotonina. Um hormônio e neurotransmissor, a serotonina desempenha um papel importante na regulação e modulação do humor, sono, ansiedade, sexualidade e apetite. Os inibidores seletivos da recaptação da serotonina (ISRS) são um tipo de medicamento antidepressivo comumente prescrito para tratar depressão, ansiedade, transtorno do pânico e ataques de pânico. Os ISRS trabalham para equilibrar os níveis de serotonina, bloqueando a recaptação de serotonina no cérebro, o que pode ajudar a melhorar o humor e reduzir os sentimentos de ansiedade.

Purinas

  • Adenosina. Este produto químico natural atua como um neuromodulador no cérebro e está envolvido na supressão da agitação e na melhora do sono;
  • Trifosfato de adenosina (ATP). Considerado a moeda energética da vida, o ATP atua como neurotransmissor no sistema nervoso central e periférico, desempenhando um papel no controle autônomo, na transdução sensorial e na comunicação com as células da glia. Pesquisas sugerem que também pode ter relação com alguns problemas neurológicos, incluindo dor, trauma e distúrbios neurodegenerativos.

Gasotransmissores

  • Óxido nítrico. Este composto desempenha um papel em afetar os músculos lisos, relaxando-os para permitir que os vasos sanguíneos se dilatem e aumentem o fluxo sanguíneo para certas áreas do corpo;
  • Monóxido de carbono. Esse gás incolor e inodoro pode ter efeitos tóxicos e potencialmente fatais quando as pessoas são expostas a altos níveis. No entanto, também é produzido naturalmente pelo corpo onde atua como um neurotransmissor que ajuda a modular a resposta inflamatória do corpo.

Acetilcolina

  • Acetilcolina. Este neurotransmissor tem a própria categoria. Encontrado no sistema nervoso central e periférico, é o neurotransmissor primário associado aos neurônios motores. Desempenha um papel nos movimentos musculares, bem como na memória e na aprendizagem.

Funcionamento incorreto dos neurotransmissores

Tal como acontece com muitos dos processos do corpo, às vezes as coisas podem dar errado com os neurotransmissores. Talvez não seja surpreendente que um sistema tão vasto e complexo como o sistema nervoso humano seja suscetível a problemas.

Algumas das coisas que podem dar errado incluem:

  • Neurônios não produzindo quantidades apropriadas de um neurotransmissor;
  • Neurotransmissores sendo reabsorvidos rápido demais;
  • Enzimas desativando neurotransmissores demais.

Quando os neurotransmissores são afetados por doenças ou drogas, pode haver vários efeitos adversos diferentes no corpo. Doenças como Alzheimer, epilepsia e Parkinson estão associadas a déficits em certos neurotransmissores.

Os profissionais de saúde reconhecem o papel que os neurotransmissores podem desempenhar nas condições de saúde mental, razão pela qual medicamentos que influenciam as ações dos mensageiros químicos do corpo são frequentemente prescritos para ajudar a tratar uma variedade de condições psiquiátricas.

Por exemplo, a dopamina está associada a coisas como vício e esquizofrenia. A serotonina desempenha um papel nos transtornos de humor, incluindo depressão e transtorno obsessivo-compulsivo (TOC).

Os medicamentos às vezes são usados sozinhos, mas também podem ser usados em conjunto com outros tratamentos terapêuticos, incluindo psicoterapia. Para falar com um psicólogo agora mesmo, clique aqui.

Substâncias que afetam os neurotransmissores

Talvez a maior aplicação prática para a descoberta e compreensão detalhada de como os neurotransmissores funcionam tenha sido o desenvolvimento de drogas que afetam a transmissão química. Esses medicamentos são capazes de alterar os efeitos dos neurotransmissores, o que pode aliviar os sintomas de algumas doenças.

  • Agonistas e antagonistas. Algumas drogas são conhecidas como agonistas e funcionam aumentando os efeitos de neurotransmissores específicos. Outras drogas, referidas como antagonistas, atuam para bloquear os efeitos da neurotransmissão;
  • Efeitos diretos e indiretos. Essas drogas podem ser divididas com base no efeito direto ou indireto. Aquelas que têm um efeito direto funcionam imitando os neurotransmissores porque são muito semelhantes em estrutura química. Aqueles que têm um impacto indireto funcionam agindo nos receptores sinápticos.

Drogas que podem influenciar a neurotransmissão incluem medicamentos usados para tratar doenças, incluindo depressão e ansiedade, como ISRSs e antidepressivos tricíclicos.

Drogas ilícitas como heroína, cocaína e maconha também têm efeito na neurotransmissão. A heroína atua como um agonista de ação direta, imitando os opioides naturais do cérebro o suficiente para estimular seus receptores associados. A cocaína é um exemplo de droga de ação indireta que influencia a transmissão da dopamina.

João Vitor Gomes dos Santos
João Vitor Gomes dos Santos

Engenheiro Mecânico, através da convivência na universidade se conscientizou da importância do bem-estar mental. Para promover e acessibilizar os cuidados com a mente, cofundou a PsyMeet. Convencido da importância da saúde mental para uma vida feliz, está sempre lendo, assistindo e ouvindo sobre o tema. Instagram @dosantosjv

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