'Eu Odeio Minha Família': O Que Fazer ao Se Sentir Assim?

Veja aqui as principais razões pelas quais as pessoas podem odiar a própria família e o que fazer quando você se sentir assim

03.08.2023 | João Vitor Santos

Nem todo mundo sente uma conexão próxima com suas famílias. Em alguns casos, as pessoas podem até pensar: "Eu odeio minha família". Como os relacionamentos familiares geralmente estão enraizados em experiências compartilhadas e proximidade, não é de admirar que às vezes possam ser tensos.

Joshua Coleman, PhD, psicólogo clínico e autor de "Quando os pais machucam: estratégias de compaixão quando você e seu filho adulto não se dão bem" sugere que, como a sociedade está tão focada no perdão, não gostar ou se afastar de sua família pode levar a sentimentos de culpa e vergonha.

Então, o que você deve fazer se odeia sua família? Lidar com essas emoções difíceis pode envolver trabalhar para consertar os relacionamentos rompidos ou pode exigir estabelecer e impor limites às pessoas de sua família.

Razões pelas quais as pessoas odeiam a própria família

Os fatores que levam uma pessoa a odiar sua família ou membros de sua família podem variar. Comportamentos tóxicos, abuso, negligência ou conflito são apenas alguns fatores que podem levar a sentimentos de animosidade e que podem fazer com que você não sinta nenhuma conexão com sua família.

Encontrar maneiras de entender melhor as causas de tais sentimentos pode ajudá-lo a lidar melhor com a situação. Em uma pesquisa de 2015 com adultos do Reino Unido separados de seus pais, algumas das causas mais comuns para a separação incluem:

• Abuso emocional;
• Negligência;
• Valores ou personalidades conflitantes;
• Expectativas diferentes sobre os papéis familiares;
• Eventos familiares traumáticos;
• Questões relacionadas a problemas de saúde mental.

Apegos fracos/ruins

Os estilos de apego geralmente se enquadram em um dos quatro tipos. Durante a infância, é importante desenvolver um apego seguro aos cuidadores, pois isso nos permite sentir-nos seguros, amados e seguros quanto ao nosso lugar no mundo.

Mas as pessoas nem sempre formam vínculos saudáveis com seus cuidadores. Em vez disso, eles podem formar apegos marcados por ansiedade/ambivalência, evitação ou desorganização:

• Se seus cuidadores forem inconsistentes, você pode desenvolver um estilo ansioso/ambivalente caracterizado por falta de confiança, alta ansiedade e relacionamentos interpessoais ruins;
• Se seus pais estavam rejeitando ou desdenhando, você pode desenvolver um estilo de apego evitativo. Isso pode dificultar o estabelecimento de relacionamentos íntimos com outras pessoas quando adulto;
• Se seus cuidadores eram extremamente inconsistentes, muitas vezes alternando entre ser afetuoso e abusivo, você pode desenvolver um estilo de apego desorganizado. Isso pode dificultar o gerenciamento de suas emoções, formar relacionamentos e sentir empatia pelas pessoas ao seu redor.

Abuso ou Negligência

O ódio também pode surgir devido ao abuso ou negligência que você experimentou. Isso pode levá-lo a odiar o indivíduo que cometeu o abuso, mas você pode não gostar ou se ressentir dos outros membros de sua família que participaram ou atuaram como espectadores.

Mesmo que outros membros da família agissem por medo ou senso de autopreservação, isso ainda pode levar a sentimentos de raiva e tensão.

Limites ruins

A raiva e o ódio também podem surgir da falta de limites apropriados nos relacionamentos com sua família. Exemplos de limites fracos nas relações familiares incluem:

• Não tratar os membros da família como indivíduos;
• Não respeitar a privacidade dos familiares;
• Usando manipulação ou culpa para controlar o comportamento;
• Desconsiderando sentimentos ou emoções;
• Exigências irracionais;
• Controle excessivo;
• Comparação ou crítica constante.

Todo mundo tem direito aos seus próprios limites. Eles são importantes para sua própria saúde mental e ajudam a definir com o que você se sente confortável, como deseja ser tratado por outras pessoas e o que está disposto a aceitar em um relacionamento.

Coleman observa que o conflito e os sentimentos de antipatia às vezes surgem porque os pais às vezes dependem de seus filhos para suas necessidades sociais. Em vez de passar tempo com o cônjuge ou amigos, os pais esperam altos níveis de envolvimento e intimidade de seus filhos adultos, o que pode entrar em conflito com os limites, a privacidade e a independência de um indivíduo.

Valores diferentes

As pessoas também podem desenvolver sentimentos de raiva ou ressentimento quando têm valores ou objetivos muito diferentes dos de seus familiares.

Essas divergências podem ser sobre política ou religião, mas também podem envolver coisas como como você escolhe gastar seu tempo, com quem se relaciona, como cuida de seus próprios filhos ou até mesmo como gasta seu dinheiro.

Você pode descobrir que não gosta de membros da família que não aceitam ou apoiam sua vida e suas escolhas.

Sinais de relacionamentos familiares tóxicos

Quando você tem relacionamentos tóxicos com pessoas da sua família, isso pode fazer com que você se sinta fisicamente, emocionalmente ou psicologicamente ameaçado. Os membros tóxicos da família geralmente estão na raiz de relacionamentos ruins, por isso não é surpreendente que eles possam fazer com que você não goste ou os odeie.

Aprender a reconhecer os sinais de relacionamentos tóxicos pode ajudar a entender melhor seus motivos para não gostar de sua família. Pessoas tóxicas tendem a fazer você se sentir:

• Desrespeitado: Você sente que os membros da família não respeitam suas necessidades;
• Explorado: Os membros tóxicos da família geralmente têm grandes expectativas, mas não retribuem o favor;
• Sem suporte: esses relacionamentos fazem você sentir que as pessoas mais próximas a você não conhecem quem você é de verdade e não estão dispostas a protegê-lo quando você precisar;
• Incompreendido: Pessoas tóxicas fazem pouco esforço para entendê-lo como indivíduo;
• Negativo: essas pessoas costumam trazer à tona suas piores qualidades e fazer você se sentir negativo em relação aos outros ou ao mundo em geral;
• Culpado: quando as coisas não saem como planejado, familiares tóxicos podem culpar você e se recusar a assumir a responsabilidade por suas próprias ações.

Preste atenção em como esses comportamentos fazem você se sentir e quando eles acontecem com mais frequência. Aprender a reconhecê-los pode ajudá-lo a procurar maneiras de lidar com eles.

Tudo bem não gostar da minha família?

É importante lembrar que não é incomum não gostar de membros de sua família. Não gostar da sua família não faz de você uma pessoa ruim.

Em alguns casos, você ainda pode manter relacionamentos com as pessoas, mesmo que não goste necessariamente delas. Isso nem sempre é possível, no entanto, dependendo da situação, das pessoas envolvidas e dos fatores subjacentes que causaram tensão no relacionamento.

Como lidar quando você odeia sua família

Como você pode lidar com esses sentimentos quando odeia sua família? Pode ser particularmente desafiador lidar com a situação quando você mora ou tem contato próximo com familiares de quem não gosta.

Se você ainda mora com sua família ou se tem contato limitado, é essencial encontrar maneiras de proteger seu espaço e bem-estar mental.

Reconheça seus sentimentos

Trabalhe para aceitar como você se sente sem se julgar pelas emoções que está experimentando. Você não pode escolher sua família. Não se culpe por não se sentir próximo de pessoas de quem você não gosta. Em vez disso, trabalhe para praticar a autoaceitação e determine o que você pode fazer para controlar esses sentimentos ou melhorar os relacionamentos que o estão deixando infeliz.

Encontrar maneiras de aceitar seus sentimentos sem julgamento pode ser útil. Aceitar suas emoções significa permitir-se sentir as coisas sem tentar sufocar ou esconder a emoção, mesmo quando é difícil ou doloroso. Ao aceitar as emoções, você pode encontrar maneiras mais saudáveis de lidar com elas e diminuir a ansiedade, o estresse, o medo e a tristeza que geralmente acompanham esses sentimentos.

Considere estratégias como auto aceitação, validação emocional, atenção plena e meditação. A terapia também pode ser muito útil para explorar seus sentimentos.

Decida como proceder

Nem todo relacionamento é recuperável ou mesmo digno de preservação. Há momentos em que o tratamento de um membro da família pode ser diretamente prejudicial, como nos casos em que há abuso ou quando um membro da família é odioso para você ou outros entes queridos devido à orientação sexual, raça ou religião. Nesses casos, muitas vezes é essencial cortar temporariamente ou permanentemente os laços com esse indivíduo.

Se você ainda mora com sua família, essa etapa geralmente requer planejamento e considerações práticas. Finanças, moradia, mudança e outros fatores são tudo o que você precisará planejar se quiser criar uma separação física e obter maior privacidade e independência.

Conserte relacionamentos

Curar relacionamentos doentios com familiares também é uma opção. Este é um passo que você pode dar se o relacionamento for importante para você e você sentir que a confiança, a comunicação e os sentimentos positivos podem ser restabelecidos.

Esta é uma etapa que requer a participação de todos os envolvidos. Não se deixe sentir pressionado a enterrar seus sentimentos ou se reconciliar com as pessoas se você não estiver pronto.

De acordo com uma pesquisa da Stand Alone, uma organização do Reino Unido que apoia adultos afastados de suas famílias, ter tempo para processar emoções dolorosas é essencial. Em vez de pressionar as pessoas que podem estar afastadas, talvez seja melhor deixá-las ter tempo e espaço para se curar antes de tentar uma reconciliação.

Se você estiver interessado em se sentir melhor em relação a seus relacionamentos com seus familiares, considere pedir-lhes que experimentem a terapia familiar. Ao trabalhar com um terapeuta, você pode melhorar a comunicação e obter insights que podem ajudá-lo a se sentir melhor em relação a seu relacionamento com eles.

Estabeleça limites

Ter um limite claro com os membros da família que estão causando estresse ou descontentamento pode ajudá-lo a existir melhor como indivíduo dentro de sua unidade familiar.

Definir limites com a família pode ser difícil, no entanto, porque é de nossas famílias que normalmente aprendemos esses limites. Pode ser difícil reconhecer um limite doentio se isso for tudo o que você já conheceu.

Love Is Respect, um recurso nacional que se concentra na prevenção de relacionamentos prejudiciais e na redução da violência entre parceiros íntimos, explica que prestar atenção em como você se sente em diferentes situações pode ajudá-lo a aprender mais sobre seus limites.

Se você deseja manter um relacionamento com os membros da família, estabeleça limites para essas interações quando possível. Por exemplo, você pode optar por passar um tempo com eles uma ou duas vezes por mês. Se certos tópicos estão criando conflitos com sua família, deixe claro que esses assuntos estão fora dos limites durante suas interações.

Estabelecer esses limites pode ajudá-lo a se sentir mais fortalecido e no controle de seu relacionamento com sua família.

Mantenha sua privacidade

Táticas como se distanciar da situação ou manter intencionalmente detalhes sobre sua vida privada podem ajudar. Se os membros da família se intrometerem em sua vida ou usarem as coisas que aprenderam contra você, procure maneiras de mudar de assunto quando certos tópicos surgirem. Quando necessário, seja direto e simplesmente diga que prefere não falar sobre o assunto.

Faça as pazes com sua escolha

Cada situação é diferente, mas em alguns casos, você pode decidir terminar seu relacionamento com familiares. Esta é uma decisão altamente pessoal e geralmente é melhor tomada se você tiver algum tempo e distância para obter alguma perspectiva sobre suas experiências.

A pesquisa sugere que o distanciamento familiar não é incomum. Em um estudo, 43,5% dos participantes relataram estar afastados de pelo menos um membro de sua família extensa. Quase 17% foram afastados de um membro de sua família imediata.

Conversar com um amigo pode ser útil, mas você também pode considerar discutir seus sentimentos com um profissional de saúde mental. Um terapeuta pode ajudá-lo a avaliar os fatores que o levaram a essa etapa e, em seguida, oferecer conselhos sobre a melhor forma de proceder.

A pesquisa sugere que a reconciliação após um afastamento pode ser particularmente difícil, principalmente para filhos adultos afastados de seus pais. Entre 50% e 60% dos filhos adultos separados de um dos pais sugeriram que nunca poderiam ter um relacionamento funcional no futuro.

Embora cortar laços possa ser estressante, pesquisas sugerem que também pode haver efeitos positivos. Um estudo descobriu que 80% das pessoas que terminaram um relacionamento com uma família sentiram que isso teve um impacto positivo em suas vidas, incluindo maiores sentimentos de força e independência.

Como você lida com uma família que você odeia?

As etapas que você deve seguir para lidar com isso incluem:

• Reconhecendo seus sentimentos;
• Decidindo quais passos você precisa tomar;
• Consertando relacionamentos se for possível ou desejado;
• Criando e mantendo limites com os membros da família;
• Tomando medidas para proteger sua privacidade;
• Fazendo as pazes com sua decisão.

Uma última dica

Sentir que não gosta da sua família pode ser uma emoção extremamente difícil de lidar. Se você se sente assim, desenvolver conexões sociais fora de sua família pode ajudá-lo a encontrar um sistema de apoio mais saudável e ganhar perspectiva e distância de familiares tóxicos.

Estratégias como distanciar-se da situação, estabelecer limites ou trabalhar para consertar relacionamentos prejudiciais podem ser benéficas para o seu bem-estar mental. Se um relacionamento está fazendo mais mal do que bem, geralmente é uma boa ideia reduzir significativamente ou cortar completamente o contato com a outra pessoa ou pessoas.

Se você estiver passando por sofrimento emocional, ansiedade, depressão ou outros sintomas como resultado de sua antipatia por sua família, procure um profissional para obter ajuda.

Você pode começar conversando com um profissional de saúde mental que pode ajudar. A terapia online também pode ser uma opção útil que você pode querer considerar.