Depressão | Neuropsicologia

Algumas pessoas correm mais risco de ficarem depressivas. Saiba porquê

Algumas pessoas são mais propensas à depressão, saiba porque isso acontece e conheça os principais fatores

Algumas Pessoas Correm Mais Risco de Ficarem Depressivas. Saiba Porquê

Por que algumas pessoas sofrem de depressão enquanto outras não, mesmo quando estão nas mesmas circunstâncias? Descobrir o que torna alguém mais propenso à depressão clínica continua sendo uma das questões mais prementes para pesquisadores e profissionais da saúde mental.

Embora os pesquisadores não tenham uma resposta exata sobre por que algumas pessoas são mais propensas à depressão do que outras, provavelmente há mais de um fator causal. A pesquisa implicou desde diferenças físicas e químicas no cérebro até fatores sociais e ambientais.

A complexidade da depressão é o que a torna uma condição desafiadora para diagnosticar e tratar. Compreender o que pode tornar uma pessoa mais propensa a sofrer de depressão é o primeiro passo no desenvolvimento de estratégias de prevenção e tratamento adaptadas para reduzir a vulnerabilidade individual à condição.

Desenvolver uma compreensão mais completa dos vários mecanismos que impulsionam a depressão também pode ajudar os pesquisadores a prever melhor quem ficará deprimido, bem como prever como a condição se apresentará ao longo do tempo.

Com essas informações, os profissionais de saúde mental estariam mais bem preparados para prever como uma pessoa pode responder a antidepressivos ou outras formas de tratamento terapêutico.

O que causa a depressão?

Segundo a Organização Mundial da Saúde, mais de 300 milhões de pessoas em todo o mundo vivem com depressão. Embora a experiência da depressão seja compartilhada por muitos, os fatores contribuintes serão diferentes para cada pessoa com a doença.

Existem alguns fatores, como a genética, sobre os quais você não tem controle. No entanto, existem outros, como sua dieta, que podem ser modificados. Embora fazer uma mudança não impeça necessariamente a depressão, pode ajudar a reduzir seu risco.

Se você pode mudá-los ou não, é útil estar ciente dos fatores que podem torná-lo mais propenso a desenvolver depressão em sua vida. Apenas lembre-se de que os pesquisadores ainda estão descobrindo o papel que cada fator desempenha. Ter um – ou mesmo vários – dos fatores que contribuem para a depressão não significa que você definitivamente ficará deprimido.

Fatores biológicos

Alguns dos fatores de risco estão associados à biologia de cada um.

Química do cérebro

Os pesquisadores não concordam exatamente como as substâncias químicas do cérebro se relacionam com a depressão, mas a conexão tem sido discutida há muitas décadas. Algumas teorias estabelecidas sugerem que certos níveis baixos de neurotransmissores (usados pelas células cerebrais para enviar sinais umas às outras) podem causar depressão.

Outros pesquisadores propuseram que estar deprimido é que causa níveis baixos de neurotransmissores, em vez de ser o contrário. O relacionamento pode até envolver ambas as coisas.

O que se sabe é que algumas pessoas com depressão se sentem melhor quando tomam medicamentos que atuam nesses neurotransmissores. No entanto, os pesquisadores não estão convencidos de que isso seja suficiente para provar relações específicas entre a química do cérebro e a depressão, em grande parte porque algumas pessoas com depressão não se sentem melhor quando tomam antidepressivos.

Genética

Os pesquisadores sabem que as pessoas que têm familiares deprimidos são mais propensas a ficarem deprimidas. Mas ter um histórico familiar de depressão não significa que você necessariamente sofrerá de depressão em sua vida. Ainda existem outros fatores que precisam se alinhar para que uma predisposição genética resulte em depressão.

Dito isto, um grande estudo genômico publicado em 2019 descobriu que pessoas com predisposição genética para depressão maior têm um risco maior de tentativas de suicídio para vários distúrbios psiquiátricos.

Doença e dor crônica

A depressão é comum em pessoas que vivem com doenças crônicas, como esclerose múltipla, diabetes tipo 2 e enxaquecas. A pesquisa mostrou que as condições de dor crônica podem causar alterações bioquímicas que levam a sintomas de depressão.

Uma pessoa com doença ou dor crônica pode ficar deprimida devido à sua situação, especialmente quando está enfrentando uma perda de qualidade de vida, um nível reduzido de funcionamento do dia a dia, dor prolongada e/ou morte.

Também foi demonstrado que as pessoas diagnosticadas com uma doença mental são mais propensas a desenvolverem outra.

Condições como ansiedade e depressão comumente ocorrem concomitantemente. Embora diferentes condições de saúde mental possam ser diagnosticadas ao mesmo tempo e possam influenciar umas às outras, elas podem precisar ser tratadas de maneiras diferentes.

Hormônios

Certas mudanças hormonais também podem aumentar o risco de depressão. Por exemplo, as alterações hormonais associadas ao ciclo menstrual, gravidez, parto e menopausa podem contribuir para a depressão.

Também não é incomum que pessoas com problemas de tireoide sofram de depressão. Embora os sintomas tendam a ser mais comuns em pessoas com tireoide com baixo funcionamento (hipotireoidismo), pessoas com tireoide hiperativa (hipertireoidismo) também podem apresentar ansiedade e depressão.

Fatores ambientais

Fatores ambientais também parecem desempenhar um papel no desenvolvimento da depressão em algumas pessoas.

Trauma e abuso na infância

Um dos fatores de risco de depressão mais bem estudados é o trauma na primeira infância. As Experiências Adversas na Infância (ACEs) são conhecidas por aumentar o risco de uma pessoa desenvolver doenças mentais e físicas crônicas, incluindo depressão. A pesquisa sobre as ACEs está em andamento, mas estudos anteriores confirmaram uma forte ligação entre experiências específicas da infância e depressão mais tarde na vida.

É possível agrupar essas experiências em três tipos:

  • Abuso - Físico, emocional, sexual;
  • Disfunção doméstica - Violência doméstica, divórcio, uso de substâncias, pais mentalmente doentes, pais encarcerados;
  • Negligência - Física ou emocional.

O nível de adversidade sofrida na infância de um indivíduo está fortemente ligado ao risco de doença mental e física, pobreza e até morte precoce. O risco aumenta à medida que o número de ACEs aumenta e uma pessoa com quatro ou mais experiências do tipo está em maior risco.

Os pesquisadores acreditam que o abuso infantil pode alterar fisicamente o cérebro, bem como alterar sua estrutura de conectividade. Estudos também mostraram que a função neuroendócrina pode ser alterada em pessoas que experimentaram altos níveis de estresse quando crianças.

Um estudo de 2019 do Hospital Geral de Massachusetts chegou a propor que experiências traumáticas nos primeiros três anos de vida podem até mudar o DNA de uma criança.

Pobreza

Estudos indicam que as pessoas que vivem na pobreza têm duas vezes mais chances de terem depressão em comparação com aquelas que viviam no nível de pobreza ou acima dele.

Viver na pobreza não apenas coloca uma pessoa em maior risco de depressão, mas se ela não puder trabalhar ou não tiver acesso à apoio e serviços sociais, a doença mental pode dificultar a saída de um ciclo de desvantagem socioeconômica.

Vários estudos e programas-piloto mostraram que, quando as pessoas com doença mental recebiam assistência financeira, os sintomas de depressão e ansiedade melhoravam.

Fatores climáticos

O local onde uma pessoa vive também pode ter um impacto na saúde mental de várias maneiras. Por exemplo, algumas pessoas relatam que ficam deprimidas durante certos meses do ano, às vezes chamado de transtorno afetivo sazonal (TAS).

Há também estudos que citam a poluição e outras exposições ambientais como potenciais fatores contribuintes para a depressão. Por exemplo, algumas pesquisas associaram a exposição ao chumbo na infância a problemas de saúde mental mais tarde na vida.

Em outro estudo, crianças que cresceram em áreas com má qualidade do ar pareciam ter maior probabilidade de serem deprimidas ou diagnosticadas com transtorno de conduta quando completaram 18 anos.

Seu ambiente também pode ser um trunfo para sua saúde mental. Pesquisas mostraram que passar tempo na natureza pode ajudar as pessoas a lidarem com a depressão, e um estudo de 2019 descobriu que crianças que passavam tempo na natureza tinham melhor saúde mental quando adultas.

Fatores sociais

Além de fatores biológicos e ambientais, fatores sociais como a personalidade de uma pessoa, experiências de estresse e conflito e até mesmo mídias sociais também podem influenciar o risco de depressão.

Personalidade

Certos traços de personalidade, incluindo baixa autoestima, pessimismo, neuroticismo e ser autocrítico ou "perfeccionista" têm sido associados a uma maior tendência à depressão e outras condições de saúde mental, como ansiedade e distúrbios alimentares.

Os pesquisadores estão especialmente interessados em aprender mais sobre um traço de personalidade que pode tornar alguém menos propenso a sofrer de depressão. A resiliência, ou as qualidades ou traços que tornam algumas pessoas mais propensas a “se recuperarem” de experiências adversas, também podem ser a chave para prevenir e tratar a depressão.

Estresse e conflito

Grandes eventos da vida – incluindo eventos tradicionalmente positivos, como casar ou eventos negativos, como perder o emprego – podem criar estresse. Quando estamos estressados, nossos níveis de cortisol aumentam. Uma teoria é que altos níveis de cortisol (especialmente quando estão cronicamente elevados) podem afetar os níveis de serotonina.

O estresse relacionado ao trabalho, em particular, pode ser um fator de depressão. Perder um emprego é um estressor óbvio, mas o ambiente de trabalho também pode contribuir para o estresse – especialmente se não parecer favorável.

Conflitos no trabalho ou na escola também podem aumentar a probabilidade de uma pessoa ficar deprimida. Um estudo de 2010 no Japão vinculou o conflito interpessoal no trabalho à depressão (particularmente entre funcionários do sexo masculino com status socioeconômico mais alto).

No ano anterior, pesquisadores na Suécia publicaram um estudo mostrando que ter sérios conflitos com colegas de trabalho ou chefes e/ou sentir-se excluído no trabalho contribuía para a depressão nos funcionários.

Não são apenas os adultos que enfrentam conflitos fora de casa: crianças e adolescentes podem encontrar desafios interpessoais na escola que têm o potencial de afetar sua saúde mental e física a curto e longo prazo.

As crianças que sofrem bullying são mais propensas a terem problemas de saúde mental, incluindo ansiedade e depressão. Elas também são mais propensas a terem doenças físicas, principalmente dores de cabeça e dores de estômago. Passar por conflitos com amigos e/ou familiares também pode aumentar as chances de uma pessoa propensa à depressão desenvolver a condição.

Luto

O luto é um processo que pode parecer com depressão, exceto que geralmente segue um determinado período de tempo começando com um evento (como a morte de um ente querido) e gradualmente se movendo em direção à resolução ou a um estágio de aceitação.

Os pesquisadores estão aprendendo, no entanto, que o luto pode assumir as qualidades de uma condição semelhante à depressão clínica, principalmente em termos de quanto tempo persiste (anos em vez de meses).

O luto complicado, como é frequentemente denominado, parece ser mais provável quando alguém perde um ente querido de forma repentina, inesperada e especialmente violenta (como um acidente de carro).

Estudos adicionais são necessários para definir formalmente o luto complicado como uma condição distinta, mas parece ter uma relação com a depressão e o transtorno de estresse pós-traumático (TEPT).

O estresse causado por uma morte ou outro estressor da vida pode ser suficiente para desencadear um episódio de depressão em alguém que já possui a tendência para essa condição.

Redes sociais

Embora a maior parte das pesquisas ainda esteja em andamento, muitos estudos investigaram o efeito das mídias sociais na saúde mental, especialmente em jovens. Vários estudos indicaram que o uso de mídia social pode desencadear sintomas depressivos e ansiedade por meio de insegurança, comparação, “medo de ficar de fora” e bullying/assédio (que, seja pessoalmente ou online, aumenta o risco de depressão de uma criança ao longo da vida).

O uso excessivo das mídias sociais também pode contribuir para a depressão, reduzindo o nível de atividade física de uma pessoa e a interação na vida real. Um estilo de vida sedentário e estar socialmente isolado são dois fatores que podem contribuir para uma saúde mental precária independente dos hábitos de mídia social.

As perspectivas não são de todo ruins, no entanto. A tecnologia, a internet e as mídias sociais também podem ser úteis para ajudar a detectar e controlar a depressão.

Fatores de estilo de vida

Por último, mas não menos importante, os fatores de estilo de vida dos medicamentos que você toma à sua dieta podem afetar o risco de sofrer de depressão.

Medicamentos prescritos

Certos medicamentos são conhecidos por terem o potencial de aumentar o risco de depressão de uma pessoa, incluindo:

  • Isotretinoína;
  • Betabloqueadores;
  • Corticosteroides;
  • Interferon-alfa;
  • Estatinas.

Medicamentos usados para tratar doenças mentais e distúrbios do sono também podem piorar ou causar depressão em algumas pessoas. Pessoas com menos de 25 anos correm um risco maior de suicídio após iniciar certos antidepressivos.

Uso de substâncias

Não é incomum que pessoas com doença mental se automediquem com drogas e álcool. No entanto, também é importante observar que, assim como certos medicamentos prescritos, as drogas ilícitas também podem fazer uma pessoa se sentir deprimida.

Quando o uso de substâncias e a depressão ocorrem ao mesmo tempo (às vezes chamado de “diagnóstico duplo”), pode ser difícil encontrar o tratamento certo. As pessoas geralmente precisam de uma equipe diversificada de médicos e profissionais de saúde mental com experiência em transtornos por uso de substâncias para apoio.

Se uma pessoa precisar se abster de uma substância, às vezes é mais seguro fazê-lo sob cuidados médicos. O tratamento em um estabelecimento de saúde mental também pode ajudar uma pessoa a lidar com os transtornos por uso de substâncias e os sintomas de depressão que podem acompanhá-los.

Dieta e atividade física

Estudos recentes indicaram que adultos com depressão leve podem prevenir um episódio de depressão maior por meio de uma combinação de mudanças no estilo de vida. Os micróbios intestinais e a dieta também podem desempenhar um papel no desenvolvimento da depressão. Algumas pesquisas também mostraram que certas dietas, como a dieta mediterrânea, podem ajudar os idosos a evitar a depressão.

Por outro lado, dietas ricas em açúcar e gordura trans, especialmente alimentos altamente processados, podem promover ou agravar a depressão, especialmente quando combinadas com um estilo de vida sedentário. Uma possível razão para a ligação é que dietas ricas nesses alimentos podem levar ao ganho de peso. Embora, o ganho de peso por si só não leva necessariamente à depressão.

Embora o ganho de peso possa estar associado ao início da depressão, também deve ser mencionado que comer alimentos ricos em açúcar ou gorduras trans pode perturbar o equilíbrio do microbioma intestinal. Isso pode levar a um intestino permeável. O sistema imunológico fica alerta e libera citocinas que podem atravessar a barreira hematoencefálica, levando a alterações neuroquímicas.

Por exemplo, algumas citocinas podem desviar a produção da serotonina para o glutamato, que, quando presente em quantidades excessivas, causa dano ou morte celular. Quando isso ocorre, pode desencadear ansiedade ou depressão.

De fato, um estudo de 2018 descobriu que as pessoas eram mais propensas a ficarem deprimidas se estivessem acima do peso – mesmo que o peso extra não estivesse causando outros problemas de saúde, como pressão alta ou diabetes tipo 2.

Os benefícios do exercício para a nossa saúde são bem conhecidos, mas estamos aprendendo mais sobre como o exercício pode ajudar as pessoas com depressão a controlar seus sintomas. Vários estudos recentes confirmaram pesquisas anteriores indicando que o exercício regular e uma dieta saudável não apenas ajudam as pessoas a controlar a depressão, mas podem ajudar a preveni-la.

João Vitor Gomes dos Santos
João Vitor Gomes dos Santos

Engenheiro Mecânico, através da convivência na universidade se conscientizou da importância do bem-estar mental. Para promover e acessibilizar os cuidados com a mente, cofundou a PsyMeet. Convencido da importância da saúde mental para uma vida feliz, está sempre lendo, assistindo e ouvindo sobre o tema. Instagram @dosantosjv

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